A crise econômica mundial se aprofunda. Piromaníacos apagando o fogo?

Portuguese translation of La crisis económica mundial se profundiza. ¿Pirómanos apagando un fuego? (January 21, 2008)

Depois da crise política e econômica dos anos 1970, a burguesia internacional, apoiando-se nas derrotas das lutas operárias na Grã-Bretanha e nos EUA, dos processos revolucionários em Portugal, no Estado Espanhol, Grécia, Chile, Argentina... e, mais tarde, no colapso do estalinismo, começou uma dura ofensiva contra os trabalhadores. Esta ofensiva, que no plano político se traduziu numa virada pronunciada à direita das organizações operárias, no terreno econômico se orientou em direção a um incremento substancial da valorização do capital e da taxa de lucros depois dos reveses sofridos nos anos 1970. Os mecanismos para obter isto foram variados. Por um lado, a privatização massiva de empresas e serviços públicos nos países capitalistas desenvolvidos e o aumento extraordinário da mais-valia absoluta e relativa extraída da força de trabalho, graças à forte desregulamentação do mercado de trabalho e ao drástico descenso dos salários. Por outro, a abertura dos mercados mundiais às mercadorias dos países imperialistas e o colapso dos preços das matérias-primas.

Estes fatores, junto à incorporação de quase dois bilhões de pessoas à economia mundial depois do colapso da URSS e do restabelecimento do capitalismo na China, agiram como um poderoso impulso à divisão internacional do trabalho e proporcionaram a oportunidade de conseguir grandes rendimentos. A taxa média de lucros empresariais nos EUA e na Europa passou de 12-14%, entre 1975-1982, para valores superiores a 20% desde meados da década dos anos 1980 até a atualidade, percentagens estas mais similares às obtidas nos anos 1960.

Não obstante, enquanto na época dourada do capitalismo norte-americano e europeu dos anos 1950 e 1960 a parte fundamental da acumulação capitalista se realizava através da reinversão de capital na produção, dando lugar ao aparecimento e desenvolvimento de novos ramos e setores produtivos e estendendo a divisão do trabalho em escala nunca vista na história do capitalismo, nestas duas últimas décadas a modesta rentabilidade do investimento na produção propriamente dita provocou o deslocamento de enormes quantidades de capital à especulação financeira.

Nestes vinte anos, os governos de todos os países capitalistas desenvolvidos entraram em acordo para uma profunda e acelerada liberalização dos mercados de capital, favorecendo o crescimento exponencial da atividade nos mercados financeiros internacionais (mercados de divisas, de obrigações, de ações e, finalmente, o mercado dos derivados), até superar as magnitudes econômicas fundamentais que expressam a riqueza real produzida (PIB, investimento, comércio internacional, reservas de divisas mundiais). Como conseqüência, a brecha entre a produção real e a especulação financeira aumentou em proporções desconhecidas (entre 90-95% da movimentação atual de capital não correspondem a operações comerciais ou de investimento, mas a movimentos puramente especulativos) 1.

Este domínio tão esmagador do capital financeiro, característico da etapa imperialista do desenvolvimento capitalista, deu lugar ao que alguns economistas denominam de passagem de finanças bancárias a finanças de mercado. Este eufemismo serve para designar o fato de que os chamados investidores institucionais (fundos de investimento, fundos de pensões e companhias de seguros) concentram nestes momentos a parte de leão do capital financeiro, superando amplamente o PIB dos países capitalistas avançados e decidindo, em proporção cada vez mais ampla, movimentos que têm grande transcendência na economia real (como a compra, fusão e fechamento de fábricas e empresas e a destruição de centenas de milhares de empregos, provocadas por este tipo de operações).

Da especulação financeira a uma possível recessão

Como já assinalamos em outras oportunidades nestas mesmas páginas, a especulação financeira e o endividamento privado e empresarial, que são conseqüência direta do crescimento econômico, não é um fenômeno novo. O que realmente é novo é a dimensão adquirida nos últimos anos, convertendo a economia da nação mais poderosa da história, os EUA, na mais endividada do planeta.

Num contexto de grandes lucros e excesso de liquidez, os Bancos Centrais alimentaram a dinâmica com taxas de juros baixíssimas; desta maneira foi induzido o endividamento massivo, a famosa alavancagem, através do qual foram adquiridas propriedades imobiliárias e títulos bursáteis que não valiam, nem de longe, os preços pelos quais eram comprados, e foram cobertas operações de fusão e compra de empresas que, por sua vez, tornaram mais aguda a inflação dos valores cotizados 2.

Durante todo este período, a bolha imobiliária e bursátil e o crédito barato se converteram no fator fundamental para manter a arrancada do investimento, do consumo e da produção, tanto nos EUA como na Europa. Mas, finalmente, como nós os marxistas sempre defendemos durante estes anos, as causas fundamentais do crescimento transformaram-se no catalisador da queda. "Há dois fatores que contribuem para a euforia e a sustentam", assinala o professor Galbraith em seu sintético, mas interessante, livro sobre a euforia financeira, "o primeiro de tais fatores é a extrema fragilidade da memória em assuntos financeiros. Em conseqüência, o desastre é facilmente esquecido. Como tal, quando voltam a se dar as mesmas circunstâncias ou outras muito semelhantes, às vezes com poucos anos de diferença, aquelas são saudadas por uma nova geração, freqüentemente cheia de juventude e sempre com uma enorme confiança em si mesma, como um descobrimento inovador no mundo financeiro e, mais amplamente, no econômico (...) O segundo fator que contribui para a euforia especulativa e para o inelutável colapso é a enganosa associação entre dinheiro e inteligência (...) Somente depois do colapso especulador surge a verdade..." 3. Deixando de lado que Galbraith não pode reconhecer que a verdadeira origem da euforia especulativa é a dinâmica do modo de produção capitalista e o afã de lucro, é evidente que a inovação financeira é o que mais se parece, sempre e em cada uma das etapas históricas em que acontece, a uma gigantesca fraude que aumenta a fortuna dos mais ricos e destrói a dos fracos.

O próprio Greenspan, em recentes declarações à imprensa econômica, considerava boa a frase de Galbraith, "Somente depois do colapso surge a verdade". O antigo presidente da Reserva Federal dos EUA (FED) reconhecia que a bolha imobiliária foi "inevitável num sentido porque quando se inicia a desenvolver uma euforia na economia são enfrentados aspectos inatos da natureza humana (...) já vimos bolhas inflarem e desinflar durante 60 anos e estou convencido de que nunca teremos capacidade nem através da política monetária e fiscal, nem através de medidas governamentais de acabar com essas bolhas sem afetar a economia". Se substituirmos a expressão "natureza humana" por funcionamento do capitalismo, estaremos de acordo. Mas, agora, as coisas se tornaram muito sérias. O próprio Greenspan comparou a situação da economia estadunidense com a de um organismo enfermo: "Alguém cujo sistema imunológico não funciona muito bem está sujeito a todo tipo de enfermidades, e a economia nestes níveis está sujeita a toda uma série de choques potenciais".

Injeção de liquidez para evitar o colapso. O Estado ao resgate

A gravidade do ocorrido com a crise das subprime nos EUA está ainda por se ver. As cifras são enganosas e as fontes oficiais tudo fazem por ocultar a verdade com medo de que o pânico se generalize. Segundo o último informe da OCDE, a crise hipotecária estadunidense terá um custo entre 200 e 300 bilhões de dólares (entre 135,2 e 202,8 bilhões de euros), cifra que Goldman Sachs aumenta até os 400 bilhões de dólares. Contudo, a própria OCDE afirma que é "demasiado cedo para estabelecer conclusões firmes". Confirmando as suspeitas, a maior agência de qualificação do mundo, a norte-americana Standard & Poor's (S&P) considera, em seu último informe, que as instituições financeiras, tanto européias quanto dos EUA, somente deram a conhecer uma quarta parte de suas perdas na crise das subprime.

O que realmente chama a atenção é que, num contexto de grandes turbulências financeiras, a rentabilidade das bolsas internacionais tenha se mantido em 2007 em nível surpreendentemente alto, algo que pode mudar drasticamente em 2008. Que é que explica este comportamento? Uma das razões foi a intervenção do Estado, isto é, dos Bancos Centrais de todo o mundo, para resgatar o sistema creditício injetando grandes quantidades de capital. Recorrendo aos mecanismos de intervenção estatal, tão repudiados pelos neoliberais, e socializando as perdas, o Estado garantiu a solvência de muitas entidades implicadas em uma das maiores fraudes do século, evitando desta forma um colapso monumental. Assim funciona a economia de livre mercado!

Os bancos centrais dos EUA e da Europa não são os únicos que participam do resgate. Àqueles se uniram as autoridades monetárias da China, Singapura, Abu Dhabi... Enquanto os primeiros abastecem ingentes quantidades de capital ao mercado interbancário; os segundos utilizam suas instituições públicas de investimento (os chamados "fundos soberanos") para injetar capital nos grandes bancos de negócios 4 que estão passando por dificuldades depois de anos de investimentos baseados em um endividamento endemoninhado.

O Banco Central Europeu (BCE) já injetou cerca de 500 bilhões de dólares, enquanto na FED e na chamada Federal Home Loans Banks, doze cooperativas de crédito amparadas pelo governo estadunidense, emprestaram cerca de 250 bilhões. No passado 12 de dezembro, a FED, da mão do BCE e dos bancos centrais do Canadá, Inglaterra e Suíça, anunciou um novo leilão de empréstimos às instituições financeiras num montante inicial de 40 bilhões de dólares. Esta ação foi decidida um dia depois de que a FED cortasse em um quarto de ponto o preço do dinheiro até 4,25%.

Mas nem a rebaixa das taxas nos EUA, nem a propaganda do plano de intervenção dos grandes bancos centrais serviram para acalmar a incerteza nos mercados, confirmando a enorme volatilidade da situação econômica e a desconfiança existente entre os próprios bancos para emprestarem dinheiro entre si.

Petróleo e inflação. A economia estancada

A insistência em injetar mais liquidez nos mercados financeiros longe de ser a solução pode provocar um problema ainda maior. Num contexto como o atual, com o barril de petróleo situado nos 100 dólares e com um crescimento obsceno dos preços das matérias-primas agrárias e industriais e dos artigos de primeira necessidade (alimentos, gás, eletricidade, combustível...), o aumento da circulação de capital pode piorar as coisas. Alimentar o mercado com mais créditos com o objetivo de animar o investimento, quando o problema não é de liquidez, longe de permitir alcançar o objetivo buscado pode provocar uma explosão da inflação sem corrigir a dinâmica descendente do ciclo.

Muitas vozes já advertem contra o perigo de estagflação, isto é, estagnação com inflação. Grandes palavras que nos remetem à crise dos anos 1970 (os analistas vaticinam uma arrancada em 2008 nos EUA com o aumento do PIB abaixo de 1% e com uma inflação que encerrou 2007 em 4,3% anuais). Vendo a reação das autoridades econômicas ante a gravidade da crise, cabe perguntar-se se não se comportam como piromaníacos tentando apagar um fogo descontrolado.

Resulta irônico que, com as estimativas preliminares do FMI que assinalavam um crescimento da economia mundial de 5,2% em 2007, as incertezas sobre uma possível recessão mundial a cada dia adquiram mais força 5. Basta repassar alguns indicadores econômicos dos países mais importantes para se ter um quadro completo da gravidade da situação.

Nos EUA, o gasto em construção do terceiro trimestre de 2007 diminuiu 20,1% em relação ao período anterior, em termos anuais; as casas iniciadas ficaram 16,4% por baixo do mesmo período do ano anterior. Em outro plano, as perspectivas de gasto dos consumidores endividados são realmente sombrias. O consumo varejista marca uma linha de desaceleração lenta, mas bem definida. Paralelamente, a inadimplência dos cartões de crédito aumentou em quase 30% no primeiro semestre de 2007. O emprego segue uma evolução semelhante. Segundo anunciou o Departamento do Trabalho dos EUA, no passado mês de dezembro foram criados 18 mil empregos no país, a cifra mais baixa desde agosto de 2003, enquanto a taxa de desemprego subiu até 5%. A principal causa da desaceleração na criação de emprego tem sido a crise imobiliária. O setor da construção destruiu durante o último mês do ano 49 mil postos de trabalho, embora desde setembro de 2006 tenham sido cortados 236 mil empregos no setor. As indústrias manufatureiras vinculadas a este setor representam 30% das perdas de emprego no setor industrial em 2007.

Por outro lado, o lucro operativo dos grandes grupos financeiros dos EUA caiu 33,15% no terceiro trimestre de 2007, enquanto que os dados manejados pela maioria dos analistas assinalam que o lucro por ação (LPA) do Standard & Poor's 500, para o quarto trimestre afundou até 6,1% frente ao incremento de 11,5% que se esperava no início do trimestre.

"Começou uma recessão no setor industrial e acreditamos que se trata do início de uma recessão generalizada da economia no primeiro semestre de 2008", assinalou Daniel Meckstroth, economista-chefe da Alianza de Industriales (MAPI). "A queda do setor imobiliário, a baixa da produção automobilística, os preços recordes do petróleo e a crise do crédito são impactos suficientes para causar uma parada em qualquer ciclo econômico", acrescentou.

Tampouco no Japão a situação é agradável. O investimento na construção no terceiro trimestre de 2007 caiu 10,9% na variação inter-anual. Com respeito ao investimento, a formação bruta de capital caiu nos segundo e terceiro trimestres de 2007 0,9 e 1,2, respectivamente. A forte desvalorização que o dólar estadunidense experimentou ao longo de 2007, e que alcança já 7,5% em termos de yenes, não favoreceu as empresas japonesas que sofrem a perda de competitividade de suas exportações. O PIB japonês cresceu apenas 0,7% no terceiro trimestre de 2007, razão porque um retrocesso importante da economia estadunidense se deixará sentir com força no Japão.

A ameaça é clara não somente para os EUA, Japão ou China. Na velha Europa, a OCDE reviu drasticamente suas últimas previsões rebaixando o crescimento da zona do euro para 2008 a 1,9%, sete décimos a menos da estimativa em setembro. Segundo este organismo, o crescimento dos 30 países que formam parte da organização ficará em 2,3% em 2008, enquanto que os EUA, o Japão ou o Reino Unido não superarão 2%.

Em direção a uma crise global

As necessidades de financiamento das dívidas norte-americanas atam o mundo inteiro ao carro de uma economia enferma. São os dólares comprados pelos bancos centrais da China, Coréia e Japão os que financiam diariamente esta dívida gigantesca, mas a queda livre do dólar ameaça pôr um fim a esta situação. Se a depreciação do dólar continua, é muito provável que não demore a se produzir uma fuga desordenada por parte dos investidores em dólares, particularmente asiáticos, o que provocaria um problema de tal magnitude que é difícil prever como sairiam dele. No caso de que o governo norte-americano adote medidas para compensar os investidores por conservar seus ativos em dólares, produzir-se-ia um fenômeno pouco desejável: o custo do capital nos EUA dispararia, desalentando o investimento e reduzindo o gasto de consumo na medida em que as altas taxas de juros reduzam o valor do principal ativo dos estadunidenses, suas casas. Seria como saltar da frigideira diretamente ao fogo.

Em teoria, um dólar débil impulsionará as exportações e permitirá que a economia norte-americana se recupere à custa de seus competidores. Mas as exportações agora apenas representam 12% do PIB estadunidense, uma proporção demasiado pequena para compensar o enfraquecimento do consumo, que representa 70% do PIB. Na realidade, a desvalorização do dólar nos últimos anos supõe uma fraude gigantesca para os investidores de bônus norte-americanos, que viram como se reduzia brutalmente o valor de seus depósitos.

Este verdadeiro equilíbrio do terror financeiro, que no momento é aceito dado o pânico pelas conseqüências que uma recessão nos EUA teria sobre a economia asiática e mundial, pode romper-se dadas as contradições insolúveis do sistema. E já há indícios disso: o governo chinês começou uma campanha estudada de ameaças econômicas contra os EUA, insinuando que poderia liquidar a grande quantidade de bônus do tesouro norte-americano que possui se Washington impõe sanções comerciais para obrigar a valorização do Yuan. A China não quer nem ouvir falar de uma possível queda de suas exportações no mercado mundial, decisivas para o crescimento de sua economia. Mas com valorização ou sem ela, uma recessão nos EUA afetará, e muito, o colosso chinês.

Todo o anteriormente dito assinala que a verdadeira razão da profundidade da crise tem de ser buscada na superprodução de mercadorias, bens e serviços que, inevitavelmente, se produz precisamente no pico agudo do boom econômico. Como resultante, as potências imperialistas se ameaçam, umas às outras, com adotar medidas protecionistas e desvalorizações competitivas, o que poderia transformar a crise numa profunda depressão. Por exemplo, os capitalistas europeus sofrem a apreciação selvagem do euro, que debilita a competitividade de suas exportações no mercado mundial 6, enquanto a avalanche de manufaturas chinesas míngua seus lucros em seu próprio mercado. Como resposta, as autoridades da União Européia tratam de impor novas tarifas alfandegárias às importações da China. É este endurecimento da competição num mercado em vias de saturação que explica o fracasso constante da Organização Mundial do Comércio (OMC) em sua tentativa de regulamentar as condições do comércio mundial, e o número crescente de acordos bilaterais firmados entre as grandes potências e as pequenas nações.

Apenas uma coisa está fora de dúvida: depois de um boom econômico em que as condições dos trabalhadores europeus e norte-americanos retrocedeu objetivamente depois de anos de duros sacrifícios, cortes salariais e perda de direitos, uma nova volta na porca do parafuso pode provocar uma explosão da luta de classes 7.

Neste início de ano, as guerras, a miséria, a obscenidade da fome e da enfermidade, a regressão nas condições de trabalho e de vida de milhares de milhões de homens e mulheres, são uma realidade inquestionável que golpeia a consciência dos oprimidos. Mas isto não é suficiente. É necessário resolver estas contradições de uma vez por todas, com a transformação socialista da sociedade e a derrubada do capitalismo. Esta é a única alternativa realista. Como Trotsky explicou em um discurso dirigido ao Terceiro Congresso da Internacional Comunista: "A curva de desenvolvimento econômico tende, através de todas as oscilações, para baixo e não para cima. Contudo, quer dizer isto que o fim da burguesia chegará automática e mecanicamente? De modo algum. A burguesia é uma classe viva que germinou sobre determinadas bases econômico-produtivas (...) Esta classe sobreviveu, ou seja, se converteu no mais terrível freio da evolução histórica, o que não quer dizer que esta classe está disposta a cometer um suicídio histórico (...) Por outro lado não é suficiente que o Partido Comunista reconheça a classe burguesa como condenada e quase suprimida para considerar segura a vitória do proletariado. Não. Ainda há que se vencer e derrubar a burguesia!".

Madrid, 13 Janeiro 2008. 


  1. Para ilustrar a magnitude do fenômeno, basta citar um dado como exemplo: segundo o Banco de Pagamentos de Basiléia, 500 trilhões de dólares - o equivalente ao PIB dos EUA em 35 anos - era a soma total do mercado de derivados não organizados em finais de junho de 2007. Apenas uma parte do conjunto do mercado de derivados.
  2. A capitalização bursátil de todas as bolsas norte-americanas passou de 5,3 trilhões de dólares, em finais de 1994, a 17,7 trilhões de dólares, em finais de 1999, e a 35 trilhões de dólares, em finais de 2006, gerando um aumento geométrico da relação preço-lucro e assim sucessivamente. Este processo não foi o resultado de uma expansão da atividade produtiva, mas se deveu a um aumento massivo dos capitais especulativos investidos em bolsa na busca de rentabilidades que a inversão produtiva não oferecia.
  3. J. K. Galbraith, Breve historia de la historia financiera, Editorial Ariel, Barcelona 1993. P 27.
  4. Um investidor saudita e o fundo soberano de Singapura, Temasek, injetarão 830 milhões de euros no maior banco de investimento do mundo, UBS (Suíça). O fundo soberano mais importante do planeta, o Abu Dhabi Investment Authority, anunciou um investimento de 7,5 bilhões de dólares (5,096 bilhões de euros) no Citigroup. À lista, somam-se os estadunidenses Morgan Stanley, Bear Stearns, Merryl Lynch e o britânico Barclays. A crise financeira arrojou os grandes bancos nas mãos dos fundos soberanos num momento de falta de liquidez. Os altos preços do petróleo, uma de suas principais fontes de renda, e o superávit exportador dos países emergentes dispararam seus recursos.
  5. O maior aporte ao crescimento é realizado pelos países emergentes (8,1%), mais do triplo do registrado pelos países mais avançados (EUA, EU, Japão ou os tigres asiáticos), que ficaram em 2,5%. Se a evolução das economias for medida em paridade de poder de compra (segundo a capacidade de compra de cada economia e não segundo as taxas de câmbio das moedas), a China é o país que mais contribui ao crescimento mundial nos últimos sete anos (25%), na frente dos EUA.
  6. Apesar das restrições, o têxtil chinês aumentou sua quota nos EUA (as importações chinesas cresceram 15% frente a 4% das importações totais) e na EU (10% frente a 6% global), áreas em que é o fornecedor líder (nos EUA, domina quase um terço do mercado). Mas o aumento da quota chinesa foi muito mais corpulento no mercado mundial. Segundo o informe da OMC, as exportações totais do têxtil chinês aumentaram em 2006 25,2%, ainda mais que no ano anterior, e tocaram nos 144 bilhões de dólares (107 bilhões de euros), quase o triplo de há cinco anos.
  7. No último informe sobre o mercado de trabalho da EU, publicado pela Comissão Européia no mês de dezembro de 2007, conclui-se que o peso das receitas do trabalho no PIB comunitário alcançou em 2006 seu mínimo histórico, com uma participação de 58%. Em 1975, as rendas dos trabalhadores tinham um peso de 70% no PIB da UE (15 membros). O descenso continuado na quota da riqueza dos trabalhadores nas últimas três décadas repete-se em outras grandes economias: no Japão e nos EUA apenas supera 60% de seus respectivos PIB. Por outro lado, a OIT publicou no início de 2007 um documento intitulado Tendências Mundiais do Emprego 2007. No mesmo, assinalam-se contradições que expressam vivamente os limites do crescimento: se bem que haja mais pessoas trabalhando que nunca antes, o número de desempregados registrados oficialmente manteve-se numa marca sem precedentes de 195,2 milhões de pessoas em 2006. A OIT também destacou que houve somente modestos avanços nas tentativas para tirar da pobreza aos 1,37 bilhões de trabalhadores que, apesar de terem emprego, sobrevivem com menos de dois dólares ao dia. O documento assinala que durante a última década a produtividade aumentou 26%, enquanto que o número de empregados no mundo subiu apenas 16,6%.