O impacto desproporcional da Covid-19 sobre as mulheres no Canadá

A pandemia da Covid-19 afetou todas os setores da sociedade e tirou centenas de milhões de pessoas do trabalho em todo o mundo. No entanto, um olhar mais atento revela que as mulheres foram afetadas de forma desproporcional pela pandemia. As trabalhadoras desempenham um papel fundamental nos cuidados de saúde, creche, assistência aos idosos e ensino, embora enfrentem baixos salários, empregos precários e violência doméstica e sexual – tudo isso agravado pela pandemia.

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Perdas de empregos e trabalho precário

Em 9 de abril, um relatório de Statistics Canada descreveu os setores mais atingidos pela pandemia em termos de perda total de empregos: hotelaria e serviços de alimentação (-25,6%), informação, cultura e recreação (-16,6%), serviços educacionais (-10,4 %) e comércio atacadista e varejista (-7,4%). As mulheres representaram a maioria dos empregos perdidos em todos esses setores.

O Canadian Centre for Policy Alternatives informou sobre os dados divulgados pela Statistics Canada, que descobriu que, em outros setores, as mulheres foram responsáveis ​​por quase 100% das perdas de empregos (saúde, assistência social, finanças, seguros, imóveis, aluguel e leasing, e serviços comerciais, de construção e outros serviços de apoio). As mulheres representam 47% de todos os trabalhadores e ainda assim foram responsáveis ​​por 63% de todas as perdas de empregos. Entre os trabalhadores de 25 a 54 anos, as mulheres representaram 70% de todas as perdas de empregos. É importante ressaltar que “por maiores que sejam, os números do desemprego não incluem aqueles que deixaram o mercado de trabalho e agora estão em casa cuidando de crianças ou outras pessoas que estão doentes, sem perspectiva de retorno imediato. Entre fevereiro e março, houve um aumento significativo no número de mulheres ‘que não estão no mercado de trabalho’. Entre as mulheres na faixa de idade média (com idades entre 25-54 anos), esse número cresceu em 145.800 (ou 10,5%)“.

Esses números contrastam com recessões anteriores, onde as perdas de empregos são tipicamente direcionadas aos homens, porque as indústrias dominadas pela mão-de-obra masculina, como “setores de produção de bens como construção e manufatura tendem a ser mais sensíveis ao ciclo de negócios ou pelo menos o têm sido historicamente“. Em contraste, a pandemia da Covid-19 atingiu particularmente o setor de serviços, onde as mulheres são maioria. A iPolitics relatou, em 9 de abril, que “as maiores perdas de empregos foram registradas em indústrias, incluindo hotelaria e serviços de alimentação, que viram o emprego cair quase 24 por cento; informação, cultura e recreação, que viram o emprego cair 13,3 por cento; e serviços de educação, que tiveram menos 9,1% de empregos”.

O mesmo tem acontecido internacionalmente para indústrias como hotelaria, alimentação, varejo e manufatura, onde as mulheres constituem a maioria da mão-de-obra. Por exemplo, na América Central a porcentagem de todas as mulheres empregadas nesses setores é de 59%; no Sudeste Asiático é de 49%; na América do Sul é de 45%. Nos Estados Unidos, a Pew Research relatou, em 9 de junho, que, de fevereiro a maio, 11,5 milhões de mulheres perderam seus empregos, em comparação com 9 milhões de homens. As mulheres hispânicas viram o declínio mais acentuado no emprego, de -21%. Um relatório do Institute for Women’s Policy Research (IWPR) mostrou que, nos Estados Unidos, as mulheres representaram quase 60% das perdas de empregos entre fevereiro e maio de 2020 e superaram as perdas de empregos por homens em todos os setores da economia. Meghan Cohorst, porta-voz do sindicato UNITE HERE nos Estados Unidos, que representa 300.000 trabalhadores nas indústrias de hotelaria, jogos, alimentação, manufatura, têxtil, distribuição, lavanderia, transporte e aeroportos, disse que 98% de seus membros, a maioria dos quais são mulheres e imigrantes, foram despedidos.

Além disso, as mulheres têm maior probabilidade de ter empregos marginais e de baixa remuneração, que foram mais impactados. Uma investigação do Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero (EIGE) revelou que cerca de um quarto (26,5%) das trabalhadoras na União Europeia (UE) têm empregos precários, em comparação com 15,1% dos homens. No Japão, as mulheres representam até dois terços dos “empregos não regulares”, que estão desaparecendo por causa da pandemia. Dos 970.000 cargos perdidos apenas em abril, cerca de 710.000 eram ocupados por mulheres.

Cuidados de saúde e de idosos

As mulheres estão na linha de frente da luta contra a pandemia da Covid-19 como trabalhadoras em centros de saúde e de atenção a idosos. As mulheres representam 82% dos trabalhadores de saúde no Canadá, em comparação aos 47% da população ativa no geral. Em lares de idosos canadenses, as mulheres representam quase 90% do pessoal remunerado.

O mesmo é verdade internacionalmente. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) relata que as mulheres representam 70% dos profissionais de saúde globais e até 95% dos trabalhadores de cuidados de longa duração. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) relata que esses trabalhadores enfrentam condições perigosas e exaustivas:

Os profissionais de saúde, em particular aqueles que lidam com pacientes da Covid-19, estão frequentemente sujeitos a condições de trabalho árduas (e às vezes perigosas). Longas jornadas de trabalho em unidades de terapia intensiva, falta de equipamentos de proteção individual e outros recursos, falta de pessoal e intenso estresse emocional expõem os profissionais de saúde a maiores riscos de infecção e transmissão, especialmente em países de baixa e média renda.

Um informe do Grupo de Trabalho da Royal Society of Canada sobre Cuidados de Longo Prazo indicou que a proporção, no Canadá, de mortes em instituições de cuidados de longo prazo superou em muito os outros países, afirmando: “O Canadá está experimentando uma proporção muito maior do total de mortes por Covid-19 do país em lares de idosos do que em outros países comparáveis ​​— 81% no Canadá, em comparação com 28% na Austrália, 31% nos EUA e 66% na Espanha, com base em relatórios atuais”.

A intensidade e a quantidade de trabalho impostas a esses trabalhadores só aumentaram durante a pandemia. Um aumento semelhante na demanda por mulheres como trabalhadoras de saúde ocorreu durante a pandemia de gripe espanhola em 1918. Trabalhadores de apoio pessoal, que realizam trabalho árduo em instalações de cuidados de longo prazo e às vezes trabalham 16 horas por dia, geralmente recebem um salário mínimo. Além disso, até o recente clamor público em Ontário, os empregadores negavam a esses trabalhadores a jornada normal de trabalho e os forçavam a trabalhar em várias instalações. Os empregadores queriam evitar ter de conceder benefícios a esses trabalhadores. No entanto, os proprietários de instituições privadas de assistência de longo prazo em Ontário não hesitaram em se recompensar a si mesmos com bônus durante a pandemia.

A situação horrível e as mortes nos locais de cuidados que exigem longa permanência eram evitáveis. Trabalhadores em instituições de cuidados de longo prazo expuseram de forma repetida e insistente as vulnerabilidades em seus locais de trabalho ao longo de décadas e foram ignorados por políticos que estavam mais interessados ​​em atalhar e reduzir os impostos sobre os ricos e as grandes empresas. Em 2019, o governo de Ontário sinalizou seu plano de cortar US $ 8 bilhões do orçamento de saúde até 2024, levando a protestos generalizados de trabalhadores de saúde e sindicatos. A crise de subfinanciamento no sistema de saúde de Ontário – com os corredores dos hospitais tão lotados de pacientes que passaram a ser chamados de “medicina de corredor” – esteve no radar dos políticos por anos e foi repetidamente sinalizada pelos profissionais de saúde, porém foi enfrentada com inação e ainda mais cortes. Agora, são os profissionais de saúde e de cuidados de longa duração, em sua maioria mulheres, que estão trabalhando em turnos cansativos e perigosos para corrigir a bagunça que os patrões e seus políticos criaram.

Violência doméstica

A pandemia também criou as condições para um aumento da violência contra as mulheres. Em um país após o outro, surgiu um padrão: “Na Europa, um país após o outro parece ter seguido o mesmo caminho sombrio: primeiro, os governos impõem bloqueios sem tomar providências suficientes para vítimas de violência doméstica. Cerca de 10 dias depois, os pedidos de socorro aumentam, gerando um clamor público. Só então os governos se esforçam para improvisar soluções”.

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Pandemia criou as condições para o aumento da violência contra as mulheres / Image: Senior Airman Rusty Frank

Vários países tiveram aumento nas denúncias de violência doméstica após a decretação de seus bloqueios: o número de denúncias aumentou 18% na Espanha, 25% na Grã-Bretanha e 30% na França. Na China, as chamadas para linhas de ajuda triplicaram em relação ao ano anterior.

Na verdade, esses números podem ser uma subestimação da situação real. Pamela Cross, diretora jurídica da Luke’s Place – uma organização em Oshawa, Ontário, que fornece suporte e treinamento para funcionários de abrigos e advogados – explicou em uma entrevista:

Viver em tempo integral com um agressor limita a capacidade da vítima de pedir ajuda ‘à família, aos amigos ou à polícia’. Da mesma forma, é muito mais difícil ter uma conversa privada com um abrigo ou advogado, uma vez que isso requer que seja feito por telefone ou videoconferência. [Cross] especula que [algumas] vítimas podem “ter decidido, no momento, que o risco associado à Covid-19 é maior do que o abuso que estão sofrendo atualmente” e que “se o plano de fuga [da vítima] envolver os pais idosos da vítima, esta não é mais uma opção razoável”

A violência contra as mulheres não é nova. Estatísticas pré-pandêmicas mostram que, aproximadamente a cada seis dias, uma mulher no Canadá é morta por seu parceiro íntimo. O Statistics Canada informou que a violência praticada por parceiro íntimo, incluindo a violência conjugal ou durante o namoro, é responsável por um em cada quatro crimes violentos denunciados à polícia. Em 2011, houve aproximadamente 97.500 vítimas de violência por parceiro íntimo, o que representa 341 vítimas por 100.000 habitantes. A grande maioria dessas vítimas (80%) são mulheres.

Há décadas, as organizações de mulheres destacam a necessidade de financiamento adicional para fornecer abrigos e recursos para mulheres que enfrentam a violência doméstica. Em vez disso, seus orçamentos foram cortados pelos políticos. Em maio de 2019, o governo de Doug Ford em Ontário eliminou fundos para abrigos para mulheres em US $ 17 milhões. A falta de espaço e de recursos não é um fenômeno novo criado pela pandemia. Em vez disso, a pandemia destruiu uma estrutura já enfraquecida que havia sido consciente e sistematicamente desmontada, colocando em risco milhares de mulheres.

Outro exemplo repugnante de abuso de mulheres, que se destacou desde o início da pandemia, foram os proprietários predatórios aproveitando a pandemia e explorando as mulheres que perderam seus empregos, solicitando-lhes “sexo pelo aluguel”. Em Newfoundland and Labrador, uma pesquisa com 80 entrevistados, mostrou-se que 36,3% dos entrevistados disseram que um proprietário os abordou para sexo, com metade oferecendo um desconto no aluguel e 10,3% dos entrevistados tendo menos de 18 anos na época em que o proprietário fez a proposta. Mulheres em outros países também relataram essa prática, e uma entrevistada de outra pesquisa da organização National Fair Housing Alliance (NFHA), nos Estados Unidos, estava enfrentando o despejo por parte do administrador da propriedade onde residia que propôs: “se eu não tivesse relações sexuais com ele, ele ia me colocar para fora … Como mãe solteira, eu não tinha escolha. Eu não queria perder minha moradia”. Na esteira dessa exploração sexual doentia, o governo de Doug Ford propôs e aprovou uma lei que fortalece a mão dos proprietários, permitindo que executem despejos no meio de uma pandemia.

Cuidado infantil

Outro aspecto da pandemia da Covid-19 foi um aumento esmagador dos trabalhos de cuidado infantil realizado por mulheres. Mesmo antes do anúncio dos bloqueios, esperava-se que as mulheres assumissem o fardo extra do trabalho doméstico. De acordo com a OIT, as mulheres realizam três quartos de todo o trabalho de assistência não remunerado, a que muitas se referem como o “segundo turno”, quando as mulheres trabalhadoras voltam para casa após seu dia formal de trabalho.

Desde a pandemia, nove em cada dez alunos estavam fora da escola, de acordo com um estudo realizado em abril pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Mulheres com filhos gastam em média 65 horas por semana em tarefas domésticas, quase um terço a mais do que os homens com filhos durante a pandemia.

No início da crise, essa expectativa colocava as mulheres em maior risco de serem demitidas. Emily Martin, do National Women’s Law Center nos Estados Unidos, afirmou que “com o fechamento de todo o setor de cuidados infantis, as mulheres estavam perdendo flexibilidade no momento em que os empregadores estavam decidindo a quem suspender e a quem demitir“. A situação é ainda mais difícil para famílias monoparentais, 78,4% das quais são chefiadas por mulheres, em termos internacionais.

Outro fator que contribui para que as mulheres sejam desproporcionalmente excluídas da força de trabalho são as decisões econômicas que as famílias trabalhadoras são obrigadas a tomar devido ao fechamento das escolas. As mães canadenses ganham 40% da renda familiar. The Atlantic observou:

No nível individual, as escolhas de muitos casais nos próximos meses farão um sentido econômico perfeito. Do que os pacientes com pandemia precisam? De cuidados. Do que os idosos que se isolam precisam? De cuidados. Do que as crianças que ficaram em casa longe da escola precisam? De cuidados. Todo esse cuidado – esse trabalho de cuidados não remunerado – recairá mais pesadamente sobre as mulheres, por causa da estrutura existente da força de trabalho. [Clare Wenham, professora assistente de política de saúde global na London School of Economics] acrescentou: ‘não se trata apenas de normas sociais de mulheres desempenhando funções de cuidado; trata-se também de aspectos práticos … Quem paga menos? Quem tem a flexibilidade?

Da mesma forma, as taxas de desemprego muitas vezes escondem a realidade de quantas mulheres trabalhadoras foram expulsas do mercado de trabalho. The Vancouver Sun noticiou em 6 de junho:

Dados recentes do mercado de trabalho mostram que os homens estão se beneficiando de forma desproporcional com a reabertura gradual da economia da Província, enquanto as mulheres estão encontrando dificuldades. Em maio, os homens recuperaram 14% dos quase 1,5 milhão de empregos que perderam em março e abril, durante a paralisação induzida pela pandemia. Isso se compara com a taxa de recuperação de apenas 5% para os 1,5 milhão de empregos femininos perdidos, apesar das mulheres serem as primeiras vítimas das consequências da Covid-19, pois os cargos no setor de serviços e com salários mais baixos foram dizimados … Uma segunda razão é que as mulheres têm que ficar em casa e cuidar de seus filhos enquanto as escolas e creches permanecem fechadas, de acordo com o economista Armine Yalnizyan … Os números de empregos de maio, divulgados na sexta-feira em Ottawa, mostrando um ganho inesperado de cerca de 290.000 vagas após dois meses de perdas recordes, também revelam os cuidados infantis como uma limitação importante. Cerca de 94.000 canadenses que não estavam na força de trabalho, mas queriam trabalhar, disseram que não estavam procurando emprego por causa de responsabilidades pessoais ou familiares – 80% deles eram mulheres.

O levantamento do bloqueio da Covid-19 não promete nenhuma recuperação significativa para as trabalhadoras. Jennifer Robson, especialista em política social da Carleton University, observou que, se as empresas reabrirem e não houver opções adequadas de creches disponíveis, as dispensas temporárias e o horário reduzido podem se transformar em permanentes.

Educação

O Statistics Canada informou que, em 2014, 68% de todos os professores no Canadá eram mulheres. As mulheres representavam, em 2011, 84% de todos os professores do ensino fundamental e do jardim de infância e 59% de todos os professores do ensino médio no Canadá. Elas representaram 97% de todos os educadores e assistentes da primeira infância no mesmo ano.

O próprio fato de metade da força de trabalho ter ficado efetivamente paralisada com o fechamento das escolas contradiz os anos seguidos de acusações de políticos de direita de que os professores eram pagos em excesso, faziam trabalhos que não eram valiosos e eram “babás glorificadas”. Só em fevereiro deste ano, os sindicatos de professores em Ontário entraram em greve contra os cortes de Doug Ford na educação e uma pesquisa da CTV mostrou que 70% dos entrevistados apoiavam os professores. Assim como os profissionais de saúde e de assistência prolongada, a pandemia demonstrou claramente o valor social do trabalho realizado por professores, creches e educadores.

Por causa do papel colossal que as mulheres trabalhadoras desempenham na economia canadense, representando 47% de todos os trabalhadores, os governos federal e provincial têm se apressado em elaborar planos para reabrir escolas para fazer com que as trabalhadoras voltem a trabalhar e gerar lucros para seus patrões, como fez o primeiro-ministro de Quebec, François Legault, em maio, ao promover a reabertura de escolas.

No entanto, esses mesmos governos têm sido severos quanto ao fornecimento dos recursos realmente necessários para reabrir as escolas com segurança. De equipamentos de proteção individual à contratação de mais professores e à redução do tamanho das turmas para garantir o distanciamento social, nenhum desses compromissos foi assumido pelos governos sobre como garantir de forma prática que os trabalhadores da educação e seus alunos estejam seguros.

A reabertura de escolas coloca alunos, professores, funcionários e familiares e parentes mais velhos dos alunos em maior risco de infecção e até de morte. Em Indiana, uma escola fechou poucas horas depois de ter sido aberta, após um aluno ter testado positivo para Covid-19.

Lute contra o capitalismo para ganhar a libertação

O impacto desproporcional da Covid-19 nas mulheres, assim como a própria pandemia, não era inevitável. O Dr. Larry Brilliant, que ajudou a erradicar a varíola, disse: “Os surtos são inevitáveis. As epidemias são opcionais”. Com medidas adequadas, a pandemia poderia ter sido interrompida imediatamente. Em vez disso, os cortes nos cuidados de saúde e a preparação insuficiente ao longo de décadas levaram a quase 9.000 mortes somente no Canadá e a mais de 700.000 mortes internacionalmente.

Da mesma forma, décadas de austeridade e cortes nos cuidados de saúde, educação, creches, instalações de cuidados de longo prazo, abrigos para mulheres e outros serviços sociais deixaram as mulheres vulneráveis ​​a perdas catastróficas de empregos, excesso de trabalho e um risco elevado de infecção, violência doméstica e exploração sexual. Os trabalhadores foram informados durante anos que não há dinheiro para igualdade de remuneração, para creches acessíveis, para abrigos para mulheres que escapam da violência doméstica, enquanto resgates maciços são entregues a empresas, mesmo durante a pandemia. Essas condições que as mulheres experimentam, desde cortes em serviços a baixos salários e trabalho doméstico no lar, são imensamente lucrativas para os patrões. Essas condições não são erros, mas características de um sistema que depende da opressão das mulheres para sobreviver.

Uma ofensa a um é uma ofensa a todos e todo o movimento sindical deve assumir a causa das mulheres trabalhadoras e lutar com elas contra essas condições monstruosas. Isso significa lutar por creches gratuitas e exigir que as mulheres que escapam da violência doméstica tenham uma moradia alternativa gratuita e segura.

Se as escolas reabrirem, deve-se exigir que reabram somente se os trabalhadores assim o decidirem: se os professores e os trabalhadores da educação considerarem que são seguras para alunos e trabalhadores. Os recursos devem ser liberados para garantir a redução do tamanho das turmas e o distanciamento social, incluindo recursos adicionais para custear equipamentos de proteção individual e a contratação de professores adicionais necessários para acomodar um maior número de aulas. Se as condições da pandemia são muito perigosas para o trabalho, o movimento de trabalhadores deve exigir que todos os que estão em casa recebam o pagamento integral.

Todos os trabalhadores se beneficiariam dessas demandas e devem lutar contra as tentativas dos patrões de transferir o custo da pandemia, que os próprios patrões criaram, para os ombros da classe trabalhadora, e em particular para os ombros das mulheres trabalhadoras. As trabalhadoras não têm interesses em comum com os políticos capitalistas que por acaso são mulheres e fazem os mesmos cortes que seus colegas homens. Elas têm todos os interesses em comum com os trabalhadores que também estão sofrendo com perdas de empregos, despejos e estão sendo forçados a trabalhar em condições perigosas durante a pandemia para gerar lucros para os patrões.

Enquanto os políticos e patrões podem se isolar no conforto de suas mansões com ar condicionado, as trabalhadoras estão na linha de frente cuidando dos doentes e idosos, enquanto se expõem ao vírus e trabalham sob a punição da “dupla jornada” que inclui o trabalho doméstico. O que a pandemia da Covid-19 demonstra mais do que qualquer outra coisa é que uma sociedade movida pelo lucro não pode atender às necessidades humanas e que a luta pela libertação das mulheres está indissoluvelmente ligada à luta contra o sistema capitalista como um todo.

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