Grã-Bretanha: rejeite a colaboração de classes! Lute pelo socialismo! Share TweetAtualmente, há um monte de tagarelices sobre alianças entre partidos e entre classes. A possibilidade de um Brexit sem acordo certamente fez com que as línguas se desatassem, particularmente entre os radicais de classe média como o jornalista Paul Mason.[Source]O mundo deles virou de cabeça para baixo. Em um ataque de pânico, eles pedem a todos os chamados “progressistas” para abandonar a lealdade partidária e se unir para o “bem do país”.Um aterrorizado Mason tirou conclusões pessimistas de que o trabalhismo não pode esperar ganhar uma eleição geral por conta própria, e fez um apelo por uma nova Frente Popular. A mesma conclusão pessimista foi exibida pelo professor Eric Hobsbawn na década de 1980, que também afirmou que o trabalhismo nunca mais poderia ganhar uma eleição.Lições do passadoDeve-se dizer desde o início que o liberal pequeno-burguês sempre foi uma criatura covarde, que remonta ao século 19. Marx advertiu ao movimento dos trabalhadores sobre personagens tão inconstantes, que trairiam a classe trabalhadora em um instante. Tal foi o caso nas revoluções de 1848.Nosso grande movimento cartista do passado desdenhava corretamente de tais pessoas. Os cartistas pregavam a importância não da colaboração de classe, mas da independência de classe. “Devemos confiar somente em nós mesmos”, era o seu mantra.O liberal Whig era considerado tão ruim quanto o político conservador. “A diferença entre eles”, disse Ebenezer Elliot em 1837, “é que teu Whig está vestido com penas de galinha e tem um coração de ovelha em seu seio, com um cerebelo de serpente como cérebro”. O conservador, por seu lado, “é um ladrão sincero e degolador, ganancioso como um tubarão, cego como uma faca velha!”Eles não esqueceram as traições dos radicais de classe média na Lei da Reforma de 1832, que renegaram de suas promessas, deixando o eleitorado nas mãos de uns poucos privilegiados.Contra aqueles que, como Joseph Sturge, pregavam a cooperação de classe, Feargus O’Connor, o líder Cartista, respondeu:“Se a classe média deseja se juntar ao povo, não deve esperar liderar; deve ir junta aos poços; mas no momento em que chegaram ao Whig Cross, mostraram a lanterna escura em seus rostos e disseram: ‘boa-noite, senhor cartista’, deixando você procurar o melhor caminho possível”.“Seja forte e independente”, foi o conselho de O’Connor. Isso refletia um saudável instinto de classe.Essa é uma parte importante de nossa herança: a necessidade de independência de classe e de não misturar as bandeiras.Apocalipse NowHoje, naturalmente, a profunda crise da sociedade britânica criou uma fermentação considerável em todas as classes, incluindo a classe média. A crise mergulhou a intelligentsia liberal em um estado de ansiedade. Tudo o que podem ver ao seu redor é o caos e os perigos da reação.Um caso típico é Paul Mason, o comentarista da mídia de esquerda. Ele trabalhou em estado de frenesi. A sociedade, como ele vê, enfrenta forças reacionárias que colocam “uma ameaça à democracia, ao estado do bem-estar e a nossa tolerante sociedade” (The Guardian, 2/8/19).Para Mason, o Brexit, Boris Johnson, Nigel Farage e Donald Trump são como os Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Nossa democracia está sob ameaça, lamenta ele. Nossa tolerante sociedade está em perigo! Do jeito como ele pinta a coisa, pode-se pensar que o Terceiro Reich está logo ali embuçado na esquina.A verdade é que o sistema capitalista chegou a um beco sem saída. O capitalismo está tentando se salvar à custa da classe trabalhadora, ameaçando mergulhar a humanidade ainda mais fundo na crise.Uma nova sociedade está lutando para nascer, mas o sistema capitalista recusa-se a morrer. É isso que é responsável pelo período de revolta imensa – em termos políticos, sociais e econômicos – em que estamos vivendo.Tragédia e farsaDiante de tal ameaça, diz o assustado Mason que o trabalhismo deve abandonar imediatamente sua independência de classe e ir para a cama com os liberais democratas e todos os “progressistas”, a fim de formar uma Frente Popular.Como é característico a todos os filisteus pequeno-burgueses, Mason carece de qualquer senso de perspectiva ou proporção. Constantemente, deixa-se sacudir e desorientar pelo turbilhão dos acontecimentos.Sem nenhuma honestidade intelectual, esse antigo “trotskista” reboca a estratégia estalinista da Frente Popular dos anos 1930 como o caminho a seguir. Desprovido de ideias, ele vasculhou no armário das gerações anteriores procurando velhos trapos descartados, trazendo-nos à mente o comentário de Marx de que a história tende a se repetir – primeiro, como tragédia; e da próxima vez, como farsa.“Posso prever agora os gritos de protesto de muitos ativistas trabalhistas”, declara Mason. “Mas a tática de Frente Popular tem antecedentes profundos nas tradições políticas das quais emergiu a moderna esquerda trabalhista”.“Em 1935, o líder comunista búlgaro, Georgi Dimitrov, sozinho, manobrou a Internacional Comunista para apoiar apelos por uma “frente popular” contra o fascismo. Tratava-se de pactos eleitorais com socialistas centristas, nacionalistas de esquerda e liberais – e isso valeu a pena dentro de seis meses. Na Espanha, para a fúria dos conservadores que haviam formado sua própria aliança eleitoral com os fascistas, a Frente Popular tomou o poder em janeiro de 1936. Em maio daquele ano, a Frente Popular ganhou na França, dando ao país seu primeiro primeiro-ministro socialista”.A Frente Popular tem “antecedentes profundos” – isso é verdade. Foi introduzida seguindo a intervenção direta de Stalin nos assuntos da Comintern, entendida como uma mudança tática temporária determinada pelas necessidades da política externa soviética. Ela levou à notória “frente popular” do Pacto Stalin-Hitler de agosto de 1939.De fato, a moderna história da sociedade burguesa é cheia de todo tipo de Frentes Populares – isto é, de alianças políticas das mais diversas destinadas a enganar a classe trabalhadora.Na França, a Frente Popular tomou a forma de uma “conspiração rompedora de greves” contra a ocupação de fábricas. A experiência espanhola levou à derrota da revolução espanhola e à vitória de Franco. A Frente Popular proporcionou um elo trágico nessa cadeia de crimes e traições. Mason conhece esse fato histórico muito bem, mas deliberadamente o esconde.Tivemos um exemplo clássico de Frentismo Popular durante o Referendo da Independência Escocesa, quando o Partido Trabalhista, os liberais democratas e os conservadores, de forma oportunista, foram para a cama uns com os outros para se opor à independência. Essa aliança fracassou enormemente, particularmente para o Partido Trabalhista, resultando em uma derrota eleitoral na eleição geral de 2015.Aliança com os incendiáriosA crise que enfrentamos é a crise do capitalismo. Isso se reflete em uma crise do liberalismo e das instituições burguesas. Em pânico, Paul Mason está desesperado para manter a velha ordem a todo custo. Ele não vê nenhuma alternativa para a democracia capitalista.Para Mason e seus cupinchas, “socialismo” é uma bela ideia, na melhor das hipóteses, mas completamente irrealista. Devemos, portanto, preservar o capitalismo e o pouco que ele pode oferecer. Isso só pode ser conseguido pelo abandono de qualquer pretensão de mudar a sociedade e abraçando plenamente uma aliança “progressista” de todas as classes.Na verdade, esses argumentos refletem a desorientação dos moralistas pequeno-burgueses, que ainda vivem da nostalgia do passado, esperando pelo retorno dos “anos dourados”.Naturalmente, vamos nos opor a Boris Johnson e Donald Trump. Mas a forma de combater esses reacionários e racistas não é abandonando nosso programa e nos deitando na cama com os chamados “progressistas”, que não são nada disso.Em todo caso, unir-se a esses partidos do establishment só reforçará o apoio a demagogos de direita como Johnson, Farage e Trump. Colaborar com liberais para combater a extrema-direita é como chamar o incendiário para apagar um incêndio.Mantenha a calma e lute pelo socialismoNo passado, Mason era um “crente” da revolução socialista. Mas ele agora “cresceu” e bloqueou essas crenças “infantis”.No processo, esse “pragmático” se tornou o homem que procura saciar a sede bebendo água salgada. Ele se tornou um apologista do capitalismo liberal; a favor de um status quo centrista que não existe mais.Mason perdeu sua cabeça – se tivesse uma cabeça para perder. Parece cada vez mais com o Sargento Jones do Exército do Papai, que espalha o pânico gritando repetidamente “não entre em pânico!”.Nossa tarefa não é salvar o sistema capitalista em decomposição, mas apagá-lo. Isso significa rearmar o movimento dos trabalhadores com um audaz programa socialista.Que os radicais pequeno-burgueses chorem enquanto tomam seus chás de ervas. Não às políticas de Frente Popular! Pela independência de classe e por um programa socialista para dar um fim a esse sistema em crise!