Grã-Bretanha: a queda de Boris Johnson – começa um novo capítulo na crise Share TweetApós meses de crises e escândalos, diante de uma rebelião crescente em suas fileiras, Boris Johnson finalmente caiu. Mas a queda do líder conservador não resolverá nenhum problema para a classe dominante. Em vez disso, avizinham-se eventos explosivos.[Source]O primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson observou certa vez que uma semana é muito tempo na política. No entanto, dado o ritmo atual dos eventos na Grã-Bretanha em crise, aparentemente os desenvolvimentos políticos agora podem ser medidos em horas.Marx fez uma observação semelhante – no entanto, mais profunda – ao afirmar que havia períodos de calma e quietude, quando décadas passavam como se fossem apenas dias, e outros períodos de tempestade e tensão, nos quais a experiência de décadas se concentrava no espaço de apenas alguns dias.A Grã-Bretanha, há não muito tempo considerada um dos países capitalistas mais estáveis, agora vive claramente um período de tempestade e tensão. Entramos em uma nova época: uma época de curvas fechadas e mudanças repentinas.Desde os referendos sobre a independência escocesa e o Brexit, até a ascensão do movimento Corbyn e o caos sem fim no Partido Conservador, o cenário político do país se viu abalado por um terremoto após o outro.A demissão de Boris Johnson, no entanto, longe de acabar com essa instabilidade e turbulência, deve intensificá-la. Um novo capítulo está se abrindo na crise do capitalismo britânico.O desastre dos conservadoresApós a torrente de sordidez e escândalos dos últimos meses, do desastre de Patterson à saga do partygate, a barragem de contenção finalmente começou a ceder na terça-feira desta semana.A renúncia de dois proeminentes membros do gabinete – Rishi Sunak e Sajid Javid, ex-chanceler e ex-secretário de saúde, respectivamente – desencadeou uma avalanche de renúncias na bancada de Johnson, levando ao colapso do Partido Conservador.Os ministros estavam se demitindo a velocidades recordes. Por exemplo, apenas dois dias depois de serem nomeados secretário de educação e chanceler, os parlamentares conservadores Michelle Donelan e Nadhim Zahawi, respectivamente, estavam deixando o cargo e pedindo ao primeiro-ministro que renunciasse.Na noite de ontem, até mesmo partidários leais, como a secretária do Interior Priti Patel, estavam pressionando Johnson a renunciar. O magnata conservador Michael Gove chegou a ser demitido pelo primeiro-ministro por sua insubordinação.Navio naufragandoO principal catalisador dessa rebelião em massa foi o caso Pincher (apropriadamente chamado), depois que surgiram revelações de que Johnson fingiu ignorância em relação à má e grosseira conduta de um de seus parlamentares mais agressivos.Porém, na verdade, está claro que os deputados procuravam apenas uma desculpa – um casus belli – para lançar o seu golpe palaciano, após a humilhante derrota do partido nas eleições intercalares de Tiverton e Wakefield, e por não terem conseguido destituir o seu detestável líder no voto de confiança do mês passado.Sempre alheio à realidade, Johnson parecia determinado a se manter o tempo todo. Mesmo ontem à noite, com seu gabinete o abandonando, como ratos de um navio naufragando, Boris ainda sugeria que iria morrer lutando.Mas nesta manhã, o primeiro-ministro, caído em desgraça, finalmente admitiu a derrota. A ressalva, no entanto, é que ele pretende permanecer como primeiro-ministro “interino” até o outono, até que um novo líder conservador seja eleito.Em um sinal de quão pouco valem suas promessas, e temendo o dano que seu líder da pata manca poderia infligir nesse meio tempo, seus próprios parlamentares estão exigindo uma transição de poder mais imediata.De qualquer forma, com os parlamentares conservadores boicotando o gabinete de Johnson e recusando-se a assumir quaisquer cargos ministeriais, para não ficarem manchados pela associação com ele, o governo está efetivamente paralisado.Coro ensurdecedorA disputa pela sucessão de Boris começa agora. Alguns candidatos, como a procuradora-geral Suella Braverman, já se lançaram no campo de batalha. E uma longa lista de outras figuras de alto perfil já está pronta para se juntar a ela.Os prováveis candidatos à liderança incluem a secretária de Relações Exteriores Liz Truss, o recém-nomeado chanceler Nadhim Zahawi e o secretário de Defesa Ben Wallace. Há rumores de que Sunak e Javid também estão se oferendo para o cargo principal, assim como potenciais candidatos menos cotados como Penny Mordaunt e Tom Tugendhat.Todas essas criaturas réprobas, trapaceiras e reacionárias tentarão enquadrar o círculo: retratando-se como um “grupo de confiança”, oferecendo uma ruptura com o caos da era Boris, ao mesmo tempo em que apelam para as fileiras raivosas dos conservadores – os que finalmente decidem quem lidera seu partido.Ao fazer isso, este bando de degenerados cairá uns sobre os outros para provar o quão duros serão: contra os sindicatos; contra Bruxelas; contra a Escócia; contra Putin; contra a “brigada desperta”; e contra refugiados e migrantes.As vozes ditas “moderadas”, por sua vez, serão abafadas por um coro ensurdecedor de patriotadas, libertarianismo e racismo.Entretanto, aqueles no establishment que esperam uma redefinição, um retorno à “normalidade”, logo perceberão que o Partido Conservador tem um novo normal – uma normalidade na qual as pessoas “sensatas” estão trancadas na Torre de Londres, enquanto os palhaços, os vigaristas e os charlatães tomam conta do jogo.Guerra civilO próprio partido, enquanto isso, será consumido por uma guerra civil aberta. Apesar de toda a sua imprudência e egoísmo, Johnson era – inicialmente, pelo menos – uma figura unificadora. Mas com ele fora, todo o inferno se abrirá, com facções rivais se alinhando atrás de seus campeões enquanto arrancam pedaços uns dos outros.No início, Boris uniu todas as várias alas dos Conservadores atrás dele: os novos parlamentares do norte da “Muralha Vermelha” e aqueles de fortalezas e condados tradicionais do sul; thatcheristas querendo impostos mais baixos e “disciplina fiscal”, e uma nova geração exigindo “nivelamento” e gastos estatais em infraestrutura e serviços públicos.Agora, a única coisa que une essas damas e cavalheiros heterogêneos é o seu ódio unânime pelo ex-líder conservador.O Partido Conservador está, portanto, destinado a ser despedaçado por suas próprias contradições internas e forças centrífugas. E isso antes que um tsunami de “estagflação”, greves e convulsões sociais os atinja de cima abaixo.Governo de criseEm tais condições, a classe dominante pode começar a considerar seriamente a ideia de uma eleição geral antecipada, com a esperança de trazer uma coalizão capitalista composta pelo trabalhismo de “Sir” Keir Starmer e os ressurretos de Lib Dems, que provavelmente ganharão, às expensas dos conservadores, assentos rurais e suburbanos.No entanto, tal governo seria um governo de crise desde o primeiro dia, com a inflação prevista para chegar a 11% neste outono europeu, à medida que o teto do preço da energia é elevado ainda mais e com a economia do Reino Unido entrando em uma nova recessão.Ao ingressar no número 10, portanto, o primeiro-ministro Starmer seria imediatamente recebido com fortes batidas na porta pelos trabalhadores exigindo um aumento salarial adequado e pelas famílias comuns e correntes exigindo medidas de emergência para enfrentar a catástrofe do cada vez pior custo de vida.Ao mesmo tempo, o líder trabalhista deixou claro de que lado está: oposição às greves; apoio ao imperialismo ocidental; e ao lado dos conservadores quando se trata de agitar bandeiras e bajular os grandes negócios.Um governo Starmer, em suma, estaria a serviço da classe dominante. E, dentro dos limites do capitalismo, seria incapaz de oferecer qualquer solução real para os problemas enfrentados pela classe trabalhadora. Em vez disso, após a mais breve das luas de mel – se houver – continuaria realizando mais austeridade e ataques, significando lutas mais explosivas no front industrial e nas ruas.Forças do marxismoOs trabalhadores e os jovens devem, portanto, se organizar e se mobilizar para fazer campanha por uma eleição geral a partir de sua própria posição de classe, a fim de expulsar todos os conservadores: não apenas para derrubar este governo decrépito, mas para derrubar todo o sistema podre que eles representam.Neste sentido, agora mais do que nunca, os sindicatos devem coordenar a ação e unir todas as suas batalhas em um dilúvio de luta militante, ligada à luta pelo socialismo.Entramos em águas desconhecidas. O capitalismo britânico está navegando em uma tempestade perfeita. Somente as ideias do marxismo podem fornecer um caminho através desse turbilhão.Portanto, juntem-se a nós agora, para nos ajudar nas tarefas mais urgentes e prementes: construir as forças do marxismo, na Grã-Bretanha e internacionalmente, e para se prepararem para os eventos revolucionários que estão por vir. Nunca houve uma causa maior.