Assange: exposta a verdade do conluio imperialista

Recentemente vieram à tona chocantes revelações sobre a perseguição de mais de uma década a Julian Assange. Um juiz britânico, Penrose Foss, decidiu que o Ministério Público do Reino Unido (CPS, na sigla em ingês) deve explicar por que apagou uma série de e-mails entre eles e as autoridades legais suecas sobre a tentativa de extraditar Assange.

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As informações disponibilizadas mediante a lei de liberdade de informação revelam até que ponto o CPS, então sob o comando de Sir Keir Starmer, pressionou as autoridades suecas a fim de continuar as tentativas de extradição. Tudo isso a despeito da completa falta de evidências e do fato de que a polícia sueca pressionou diretamente duas mulheres a fazerem as declarações necessárias para apresentar acusações de estupro contra Assange.

Enquanto isso, as tentativas da jornalista italiana Stefania Maurizi de solicitar informações mediante a lei de liberdade de informação às autoridades suecas, americanas e australianas foram recebidas com uma “muralha de segredo”. Isso mostra claramente o acobertamento político de uma tentativa coordenada desses chamados governos “democráticos” de usar acusações de estupro inventadas para perseguir um inimigo político.

Julian Assange ganhou a admiração de milhões de trabalhadores e pobres quando em 2010 o Wikileaks, sua organização de jornalistas investigativos, divulgou uma pilha de informações detalhando crimes de guerra dos EUA e do Reino Unido no Afeganistão e no Iraque.

Isso expôs crimes horríveis cometidos pelos imperialistas e como esses crimes foram sistematicamente encobertos pelos EUA. Um exemplo horrível foi um vídeo do assassinato de vários civis, incluindo dois jornalistas da Reuters, por soldados dos EUA que os americanos registraram como a morte de combatentes inimigos! Os vazamentos revelaram que a escala de mortes de civis foi muito pior do que os EUA relataram, além de expor como o país foi cúmplice de um regime de tortura e detenção arbitrária.

Do ponto de vista do imperialismo dos EUA, Assange cometeu um pecado imperdoável. Ele expôs o vazio da “ordem fundamentada na lei”, revelando a política criminosa e cínica do imperialismo dos EUA em toda a sua extensão. O establishment americano não perdeu tempo em revidar, rosnando que o Wikileaks estaria “colocando as vidas de militares americanos em risco”.

Até hoje, apesar de uma extensa investigação liderada pelo Pentágono, nenhuma morte foi atribuída à exposição do Wikileaks. No entanto, políticos americanos e figuras das agências de inteligência continuam a espalhar essa calúnia.

A alegação de que Assange havia colocado pessoal dos EUA em risco foi apenas o início de um prolongado assassinato de reputação. Naquela época, Assange vivia na Suécia como resultado das garantias constitucionais que o país dá ao jornalismo livre. Mas o vazio dessas “garantias” logo foi revelado. O governo sueco temia um conflito com Washington por causa de Assange e logo foi presenteado com uma oportunidade de persegui-lo em favor dos EUA.

No verão de 2010, duas mulheres foram a uma delegacia de polícia com a intenção de obrigar Julian Assange a fazer um teste de DSTs após fazerem sexo desprotegido com ele. As autoridades suecas não perderam tempo em distorcer e utilizar isso para atacar Assange.

De forma não convencional, a polícia decidiu registrar um boletim de ocorrência de estupro 11 minutos após a segunda mulher, a “mulher S”, falar com a polícia, apesar de ter demorado duas horas e meia para ela terminar de fazer o boletim. Ainda mais bizarro, o promotor público da Suécia imediatamente emitiu um mandado de prisão contra Assange antes que o boletim fosse escrito e sem levar em conta que a “mulher S” não concordou em assiná-lo.

Após vários pedidos, e apesar de muitos dos registros terem sido destruídos, os relatos das duas mulheres revelam o grau em que foram forçadas no processo. A “mulher S” escreve que foi “a polícia que inventou as acusações” e está claro que essas mulheres foram ameaçadas de enfrentar acusações de falso testemunho caso desistissem em algum momento.

Em 2010, imediatamente após o mandado de prisão contra Assange ter sido emitido, o fato foi misteriosamente vazado para a imprensa e uma atmosfera de linchamento foi criada exigindo a prisão de Assange. Muitos dos chamados “esquerdistas” imediatamente aderiram à onda, sob o lema de “ouvir as mulheres” e “manter-se firme contra a agressão sexual”. Mas o que agora está claro a partir dessas solicitações de informações é que o estado sueco pressionou essas mulheres a prestarem queixa a fim de capturar Assange.

Devido à completa falta de evidências, os promotores suecos cederam e Assange foi autorizado a partir para Londres. Isso não ocorreu sem que a Interpol emitisse um absurdo aviso vermelho, normalmente reservado para crimes internacionais sérios. A Grã-Bretanha, que também havia sido exposta por Assange e estava ansiosa para mostrar sua lealdade (subserviência) a Washington, emitiu um mandado de prisão europeu contra ele.

Foi isso que obrigou Assange a buscar refúgio na embaixada equatoriana. O CPS, liderado por Sir Keir Starmer, começou então a utilizar agressivamente o inquérito sueco para extraditar Assange. Ficou claro na época que tratava-se de um mandado de prisão por motivação política, pois o próprio Assange se ofereceu a responder às perguntas do promotor público por escrito (uma prática comum), ou mesmo se entregar se recebesse garantias de que o governo sueco não o extraditaria para os EUA. Ele teve ambos os pedidos negados, a intenção claramente era entregá-lo à terna misericórdia do governo dos EUA.

Os poucos e-mails que sobreviveram ao que é claramente uma tentativa de encobrimento revelam como essa instituição sagrada da justiça burguesa foi manipulada, assim como todas essas instituições, para servir aos interesses da classe dominante. Um e-mail de um promotor do CPS contém a frase “não ouse ficar com medo!” enquanto outro aconselha “por favor, não pense que o caso está sendo tratado como apenas mais um pedido de extradição”.

O estado britânico estava obrigando as autoridades suecas a manterem um inquérito baseado nas evidências mais frágeis. Isso servia a um propósito duplo. Por um lado, se tivessem tido êxito, isso teria aberto caminho para que Assange fosse extraditado para os EUA. Por outro lado, envenenou a opinião pública contra Assange pintando-o como estuprador. O establishment britânico aprenderia bem com esse exemplo, realizando futuramente o bem-sucedido assassinato de reputação de Jeremy Corbyn, um ativista antirracista de longa data, pintando-o como “antissemita”.

Agora veio à tona o quão falsas eram as acusações contra Assange. Está claro que foi um ataque politicamente motivado para desacreditar alguém que ousou expor os crimes da classe dominante. No entanto, muitos na esquerda não conseguiram ver isso e, pior ainda, produziram artigos estridentes acusando de “defensor do estupro” qualquer um que apontasse as motivações claras dessa farsa.

O The Guardian desempenhou um papel particularmente sujo, com jornalistas proeminentes como Marina Hynde e Suzanne Moore publicando artigos que zombavam e denegriam Assange. O pior de tudo, no entanto, foi a contribuição dada por Owen Jones ao fornecer a cobertura de esquerda para essa ofensiva do establishment. Como o jornalista Jonathan Cook deixou claro, a campanha contra Assange não poderia ter sido tão eficaz sem o papel desempenhado por tais artigos.

Em última análise, tais capitulações diante da opinião pública burguesa refletem a fraqueza política do reformismo. Revelou primeiramente a fé ingênua desses chamados “esquerdistas” nas instituições da democracia burguesa. Para reformistas como Jones, simplesmente não poderia ser possível que tais alegações tivessem sido completamente inventadas e que Assange fosse uma clara vítima de perseguição. Não é por acaso que a mesma camarilha de jornalistas de “esquerda” cedeu e apresentou as mesmas desculpas quando Corbyn estava sendo difamado.

Em segundo lugar, a classe dominante claramente atingiu o calcanhar de Aquiles desses esquerdistas ao inventar especificamente alegações de estupro. Para esses esquerdistas, que acreditam totalmente na política identitária, ser acusado nessas questões é automaticamente ser culpado, e devemos primeiro “ouvir as mulheres” e ignorar todo o contexto político das acusações – apesar do fato agora claramente provado de que não foram as mulheres que fizeram essas alegações, mas o promotor público e a própria “mulher S”, que estava sujeita a pressões terríveis!

Como comunistas revolucionários, é importante para nós estudar a perseguição de Julian Assange como um lembrete claro do papel real da legalidade burguesa e da política de identidade. Nossa tarefa é expô-las impiedosamente, assim como Assange expôs os crimes do imperialismo de forma tão admirável há quase 15 anos.

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